Bayer separa divisão química para focar em saúde e agro
19 de Setembro de 2014
Menos lucrativa, essa linha de negócio da multinacional vai ser listada em bolsa até o início de 2017
Por: Mônica Scaramuzzo
O grupo alemão Bayer anunciou ontem que pretende separar sua divisão química do restante da companhia. O conglomerado quer se concentrar inteiramente nos negócios de ciências da vida (saúde humana e animal) e CropScience (agronegócios).
“Vamos crescer como uma companhia voltada para ciências da vida. Atualmente, 70% das vendas e 90% da lucratividade do grupo estão nessas duas divisões”, disse ao Estado Kemal Malik, o principal executivo de inovação da Bayer e membro do conselho do grupo.
A companhia pretende listar no mercado de ações seu negócio de polímeros (plásticos), menos lucrativo, nos próximos 12 a 18 meses. Essa oferta pública poderá levantar entre €10 bilhões e € 11 bilhões no mercado, segundo analistas ouvidos pela Reuters.
Nos últimos anos, a companhia começou a se desfazer globalmente de negócios voltados para especialidades químicas, que já não garantiam alta rentabilidade e que, nos últimos meses, perderam competitividade para o “shale gas” (gás de xisto). “Essa divisão tem uma boa geração de caixa, mas não estamos em um ambiente muito competitivo e sofremos forte concorrência da China”, disse Malik, reafirmando que o futuro da companhia será voltado para ciências da vida.
Nesse sentido, segundo o executivo, a Bayer está acelerando investimentos em pesquisa e desenvolvimento de medicamentos. “Temos cinco importantes produtos que podem gerar receita (futura) de €7,5 bilhões”, disse. Uma das principais apostas é o Xarelto (anticoagulante), que sozinho pode alcançar vendas globais de € 3,5 bilhões. Outros produtos, como Elya (degeneração macular úmida), Adempas (hipertensão pulmonar), Xofigo (câncer de próstata) e Stilvarga (câncer de colo retal) compõem o novo portfólio.
“As apostas são em P&D para desenvolvimento de drogas com alto potencial de inovação.
À medida que essas drogas chegam ao mercado, levam a Bayer para uma longa jornada rumo a um crescimento sustentável.” A companhia investe mais de € 3 bilhões em inovação e possui uma equipe de 13 mil pessoas no mundo dedicadas à pesquisa.
Em maio, o grupo alemão anunciou a aquisição da unidade de bens de consumo da Merck, por US$ 14,2 bilhões. Com essa transação, a Bayer tornou-se a segunda maior fabricante de medicamentos sem prescrição do mundo, atrás da Johnson & Johnson.
“Foi uma aquisição consistente, uma vez que a nossa estratégia é se consolidar na área de ‘consumer care’. Recentemente, GSK e Novartis anunciaram uma joint venture para atuar na área de medicamentos isentos de prescrição. Esse é um ‘core business’ para nós. Faz parte desse movimento de consolidação. Temos que olhar que muitas indústrias aderiram a essa tendência porque precisam ampliar seu portfólio com novos produtos”, afirmou Malik.
Brasil
A Bayer deverá investir R$ 200 milhões no País, afirmou Theo Van der Loo, presidente da companhia no Brasil. Recentemente, a companhia fez aquisições para avançar no segmento de sementes, sobretudo de grãos. Novos negócios estão no radar da companhia. No ano passado, a subsidiária brasileira registrou faturamento de R$ 7 bilhões. A divisão Cropscience (defensivos agrícolas) abocanha a maior parte da receita: 62,5% do total, com R$ 4,4 bilhões em vendas, um aumento de 41% sobre 2012. O Brasil é o segundo maior mercado para a Bayer na divisão Cropscience, atrás dos Estados Unidos. Os dois países têm forte vocação agrícola.
Mas a divisão química do grupo não vive um bom momento, segundo fontes. O complexo Químico do conglomerado, localizado em Belford Roxo (RJ), tem sofrido, como boa parte das indústrias desse segmento, perda de competitividade.
Líder no País em contraceptivos (anticoncepcionais), a companhia, dona da Aspirina, produziu no ano passado cerca de 2 bilhões de pílulas, segmento que continua em expansão.
A Bayer deverá manter suas apostas em mercados emergentes, a despeito da retomada da economia de alguns países do hemisfério norte. “Nosso crescimento vem desses mercados. Crescemos nos EUA, mas também na China, México, Brasil e podemos investir em novos mercados”, disse.
Dados Financeiros
· € 40,1 bilhões foi a receita global da Bayer em 2013; desse total, 28% correspondem à área de químicos e 47% à divisão de saúde e bem estar.
· € 3,1 bilhões foi o lucro líquido da multinacional no ano passado.
· 113.200 é o número de funcionários da Bayer; 31,2% estão na Alemanha.
· 289 é o número de subsidiárias.
Divisões
Com a separação da área de químicos, anunciada ontem, os principais negócios da Bayer no mundo passam a ser dois:
Bayer HealthCare. A área de saúde atua na fabricação de medicamentos, suplementos alimentares, produtos veterinários, dispositivos de monitoramento de glicose e sistemas de
diagnósticos. Um dos principais produtos desta divisão são o anticoncepcional Yasmin e o Betaferon, para esclerose múltipla. No ano passado, esse segmento faturou € 18,9 bilhões.
Bayer CropScience. Essa divisão de negócios está voltada para a agricultura. Por meio dessa unidade, a Bayer produz defensivos agrícolas e sementes. A Bayer CropScience faturou no ano passado € 8,8 bilhões e lucrou € 2,2 bilhões. No Brasil, esse é o segmento mais relevante da multinacional. Em 2013, ele respondeu por 62,3% da receita de R$ 7 bilhões registrada no mercado brasileiro.
Fonte: O Estado de São Paulo