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Ministro da Agricultura de Temer não poderá ser aprendiz, diz ex-ministro

23 de Abril de 2016

Por: Mauro Zafalon

Um dos primeiros do agronegócio a levantar a bandeira do impeachment da presidente Dilma Rousseff, Roberto Rodrigues, 73, ex-­ministro da Agricultura do governo Luiz Inácio Lula da Silva, indica alguns pontos factíveis de serem atingidos por um eventual governo de transição.

O futuro ministro terá de entender do assunto porque não haverá tempo para aprendizes, afirma Rodrigues. Seguro, crédito, acordos bilaterais e tecnologia são objetivos a serem seguidos.

Questionado sobre a possibilidade de assumir o Ministério da Agricultura num eventual governo Temer, Rodrigues respondeu que já deu sua contribuição ao comandar a pasta de 2003 a 2006. Leia entrevista à Folha.

Folha – O que esperar para o agronegócio de um eventual novo governo?

Roberto Rodrigues –­ Tocar rapidamente para a frente pontos essenciais ao setor.

Mas esse era também o objetivo da Kátia Abreu, atual ministra da Agricultura.

Kátia vinha fazendo um bom trabalho, mas o governo é fraco e está praticamente paralisado. Ela ficou com ações restritas e mãos atadas.

Em um governo de Michel Temer, o que pode mudar?

Vamos imaginar que o Temer cumpra suas falas.

Quais?

Que não será candidato e que vai arrumar a máquina pública. Ele terá um grande desafio, que é montar uma equipe de primeira linha para tocar o processo para a frente. Um governo de coalizão.

E o cenário do agronegócio?

É essencial que a Agricultura tenha alguém que entre jogando. Não há tempo para aprendiz. O ministro tem de conhecer bem o setor.

O tempo é curto?

Sim, o tempo é curto, e quem assumir o ministério precisará não só entender do assunto mas ter uma equipe pronta.

Mas esse é o seu perfil? Se convidado, aceita?

Já dei minha contribuição.

 

Quem poderia ser?

Depende da opção do Temer. Se for pelo Congresso, ele tem gente que se encaixa perfeitamente no cargo.

 

E fora do setor político?

Ele vai encontrar lideranças jovens, competentes e prontas. Inclusive com experiências de gestão pública e privada.

Quem?

Márcio de Freitas, da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), é um bom nome. Conhece todos os meandros do agronegócio e quem atua nesse setor.

Mais alguém nessa linha?

Outra liderança jovem é João Sampaio, ex-­secretário de Agricultura em São Paulo, no governo do PSDB. Conhece a administração pública e tem uma base forte.

O que um ministro da Agricultura precisa para atravessar esse período difícil?

Ter tropa. Se for político, terá o apoio do partido. Se for do setor privado, tem que ter uma liderança rural com base nacional.

Qual a importância da equipe?

O tempo é curto. Ministro e tropa terão de entrar jogando, e com propostas claras.

Então muda tudo no ministério? Mas há um Plano de Safra para sair em poucas semanas.

O novo ministro tem de segurar parte da equipe de Kátia. André Nassar [da Secretaria de Política Agrícola] é o pescoço do Plano Safra. Tem de ficar. Não adianta o ministro saber. Ele tem também de ter quem opera.

Quais as principais ações de um eventual novo ministro?

Estar sintonizado com os temas centrais do setor para não perder tempo. São três ou quatro. Pouco se pode avançar na questão do gargalo da logística no momento. Portanto, esqueça esse ponto.

E onde dá para avançar?

Garantir renda, dando seguro e crédito. É necessário um sistema de crédito apoiado nas cooperativas.

São os pontos básicos?

Precisamos ter também uma política comercial respaldada em acordos bilaterais. O modelo está montado. É só procurar os países com uma lista de produtos.

Mas o que exigir de investimento será difícil.

Será, mas o agronegócio não é o que salva o PIB, o emprego e a balança comercial?

E a pesquisa?

Dá para agir rapidamente. Mas é preciso criar uma rede, com participação dos ministérios da Agricultura e da Ciência e Tecnologia.

O impeachment está consumado?

Não, ainda há muita água para passar debaixo da ponte. Mas, se passar, esses pontos são factíveis para um ministro do governo de transição.

RAIO­-X ROBERTO RODRIGUES

Nascimento

12 de agosto de 1942, em Cordeirópolis (SP)

Formação

Engenheiro-­agrônomo pela Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) da Universidade de São Paulo

Carreira

Ministro da Agricultura entre 1º de janeiro de 2003 e 30 de junho de 2006 (governo Luiz Inácio Lula da Silva)

 

Fonte: Folha de São Paulo


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