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ALANAC - Notícias do Setor

Doenças de países pobres rendem Nobel

06 de Outubro de 2015

Por: GABRIEL ALVES 
 
Láurea da área de medicina é concedida a cientistas que criaram terapia contra a malária e infecções por vermes
 
Foram premiados um irlandês radicado nos EUA, um japonês e uma chinesa, todos com 80 anos ou mais
 
Um Nobel para os pobres. É assim que o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 2015 poderá ser lembrado. Ele foi concedido a descobertas ligadas a doenças tropicais que afetam principalmente países pobres.
 
Pelas descobertas ligadas a uma nova terapia contra a malária, a chinesa Youyou Tu, de 84 anos foi premiada.
 
Ela dividirá o prêmio com os cientistas William Campbell, 85, irlandês radicado nos EUA, e o japonês Satoshi Omura, 80. Eles receberão a outra metade do prêmio pelas descobertas ligadas a uma nova terapia contra infecções causadas por vermes.
 
Omura foi pioneiro em uma área que ele mesmo classificou como entediante: isolar bactérias provenientes do solo. Entre alguns milhares de tentativas, ele separou 50 culturas de bactérias promissoras –no sentido de produzir compostos antimicrobianos– do gênero Streptomyces.
 
Já Campbell isolou o princípio ativo responsável por curar verminoses em animais. A molécula ficou conhecida como avermectina. A partir dela foi desenvolvida outra, a ivermectina, que trata várias verminoses tanto em homens quanto em animais domésticos e de fazendas.
 
Omura disse, em conferência, que "só tomou emprestado o poder dos micróbios".
 
Com os achados, doenças como a filariose e a oncocercose passaram a ter um tratamento eficaz. A filariose é uma doença transmitida por mosquitos e causada por um verme (filária) que se aloja por anos no sistema linfático, e, quando se manifesta, provoca deformações e inchaço, principalmente dos genitais e das pernas. Grande parte dos casos estão na Índia e na África, mas também há casos em outras partes do mundo.
 
A doença não é fatal, mas ela incapacita e traz estigma social por conta da aparência alterada, afirma o professor titular de infectologia da Faculdade de Medicina da USP, Aluisio Augusto Segurado.
 
A oncocercose, também conhecida como cegueira dos rios, é transmitida por uma mosca e causada pelo verme Onchocerca volvulus. Ela provoca desfigurações e pode levar à cegueira. A maior parte dos casos estão na África. Em 1995, foi iniciado um programa de eliminação da doença no continente, com a distribuição de ivermectina.
 
MEDICINA TRADICIONAL
 
Já a cientista japonesa Youyou Tu teve o mérito de comandar a descoberta da artemisinina, pesquisando em livros de medicina tradicional chinesa receitas contra a malária –as formas mais agressivas do Plasmodium, causador da malária, já ganhavam resistência à cloroquina, droga bastante utilizada.
 
Há alguns anos ela vinha ganhando prêmios e o nome de dela sendo cogitado para o Nobel, já que a malária, apesar de ser uma doença tropical, já goza do status de problema global.
 
A surpresa, na avaliação de Segurado, foi a outra metade do prêmio ser dada a doenças que afetam principalmente países africanos e pobres como a Índia. "Os vencedores são desbravadores, pioneiros isolados que se dedicaram à pesquisa de doenças negligenciadas", diz segurado. "São doenças que afetam o um bilhão de pessoas mais pobres do mundo."
 
Para o professor de infectologia da Unifesp Celso Granato, a meta é achar uma política que contemple o desenvolvimento tanto das drogas que geram lucro para as indústrias farmacêuticas quanto daquelas que grande parte da população mundial precisa. E aí onde estaria o mérito dos vencedores deste ano.
 
Os vencedores dividirão 8 milhões de coroas suecas, o equivalente a R$ 3,8 milhões. O dinheiro provém de um fundo deixado pelo patrono do prêmio, Alfred Nobel (1833-1896), inventor da dinamite.
 
Os prêmios são distribuídos desde 1901. Na terça (6) e na quarta (7) serão anunciados os prêmios de física e química, respectivamente.
 
Fonte: Folha de São Paulo 


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