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ALANAC - Notícias do Setor

Valeant corta sua previsão de lucro e tenta evitar calote

16 de Março de 2016

Por: Michael Rapoport

Os investidores castigaram a Valeant Pharmaceuticals International Inc. ontem, cortando pela metade a cotação de suas ações, depois que a farmacêutica canadense reduziu suas estimativas de lucro e informou que corre risco de não conseguir pagar parte de sua dívida.

As ações caíram 51,5% para US$ 33,51, na bolsa de Nova York, seu menor nível desde 5 de janeiro de 2011. Em agosto, as ações da outrora badalada empresa eram negociadas acima de US$ 262. Em outubro, um vendedor a descoberto chamado Andrew Left chocou o mercado ao fazer críticas severas à contabilidade da Valeant relacionadas à relação da empresa com uma rede de farmácias que ela controla. Ele deu para a ação da Valeant uma meta de US$ 50, o que deflagrou uma queda de mais de um mês na cotação do papel, enquanto surgiam outros problemas com a empresa canadense.

A queda acentuada de ontem acompanhou a declaração da Valeant de que pode ficar inadimplente, seus cortes nas estimativas dos resultados trimestral e anual, e ajustes em seu modelo de negócio que podem extinguir muitas das práticas que definiram a empresa.

Grande parte das informações foram divulgadas durante um longa e bastante esperada teleconferência de resultados, que a empresa havia adiado em fevereiro, depois que seu diretor­-presidente, Michael Pearson, voltou de uma licença médica de dois meses. A Valeant se viu às voltas de uma série de notícias ruins recentemente, inclusive um atraso na apresentação de seu relatório anual, uma investigação da SEC, a comissão de valores mobiliários dos Estados Unidos, e uma possível correção no balanço.

Se a Valeant não arquivar seu relatório anual de 2015 até 29 de abril, afirmou a empresa durante a teleconferência, seus bancos credores podem acelerar a cobrança das dívidas sob o acordo de empréstimos ­ e se ele não for entregue até meados de maio, os detentores dos títulos de dívida da Valeant poderão fazer o mesmo se pelo menos 25% dos portadores de qualquer série de papéis exigirem.

A melhor estimativa da empresa é que o relatório anual seja entregue em abril, mas ela "não pode prometer", disse Pearson. A Valeant informou que, na próxima semana, vai iniciar discussões com os bancos credores para estender o prazo para entrega do relatório anual, e o do primeiro trimestre de 2016, e assim tentar evitar uma moratória.

Embora as bolsas de valores não tenham recebido bem as notícias, os títulos de dívida da farmacêutica se mostraram mais resistentes: o preço de um bônus com vencimento em 2025 caiu cerca de 7%, enquanto o de outro que vence em 2018 recuou em torno de 3,5%.

A Valeant reduziu drasticamente suas expectativas de lucro para o primeiro trimestre e para todo 2016, comparado a uma estimativa anterior divulgada em dezembro. Para o primeiro trimestre, a empresa espera lucros ajustados entre US$ 1,30 a US$ 1,55 por ação, bem abaixo de sua estimativa anterior de US$ 2,35 a US$ 2,55. A receita foi estimada entre US$ 2,3 bilhões e US$ 2,4 bilhões, ante uma projeção anterior entre US$ 2,8 bilhões a US$ 3,1 bilhões.

Para o ano todo, a Valeant informou que seu lucro ajustado deve ficar entre US$ 9,50 e US$ 10,50 por ação, comparado a uma previsão anterior entre US$ 13,25 a US$ 13,75. A receita deve ficar entre US$ 11 bilhões e US$ 11,2 bilhões, ante US$ 12,5 bilhões a US$ 12,7 bilhões estimados antes.

A empresa culpou vários fatores para a queda nas estimativas, inclusive premissas mais conservadoras para a receita, cancelamento de aumentos de preços, redução de estoques maior do que a esperada e uma alta nos investimentos em áreas como relações com governos e investidores, que a Valeant havia afirmado anteriormente que era necessária.

A empresa afirmou que estava cancelando aumentos de preços e que não iria procurar por novas aquisições de marcas de remédios que poderiam ter os preços elevados ­ estratégia que, para melhor ou para pior, a vinha diferenciando do resto do setor. "Não estamos mais no mercado de ativos subprecificados", disse Pearson.

O investidor ativista William Ackman, do fundo Pershing Square Capital Management LP, que possui uma fatia significativa das ações da Valeant, vem defendendo a empresa em longas teleconferências. Num comunicado divulgado ontem, ele disse que o Pershing vai adotar "um papel muito mais proativo na empresa para proteger e maximizar o valor de nosso investimento".

Na semana passada, o vice-­presidente do conselho do Pershing, Steve Fraidin, entrou no conselho da Valeant.

A Valeant divulgou prejuízo de US$ 336,4 milhões no quarto trimestre de 2015, ou US$ 0,98 por ação, e uma receita de US$ 2,8 bilhões pela regra padrão de contabilidade. No mesmo período do ano anterior, o lucro por ação foi de US$ 1,56 e a receita atingiu US$ 2,3 bilhões, mas a Valeant sinalizou que o resultado trimestral pode ser reajustado.

Pelo método ajustado da Valeant, a empresa registrou lucro de US$ 2,50 por ação no trimestre mais recente, pouco abaixo da expectativa dos analistas: US$ 2,51.

A ação da Valeant subiu para mais de US$ 260 no fim de agosto, quando a empresa ainda seguia a estratégia de comprar marcas de remédios e outras farmacêuticas e elevar os preços dos produtos, em vez de depender da pesquisa e desenvolvimento para criar suas próprias drogas.

Desde então, a cotação despencou devido a uma série de problemas, incluindo críticas do governo à sua política de preços e a sua relação com uma farmácia de entrega de remédios pelo correio, a Philidor Rx Services LLC, que ajudava a Valeant a vender seus geralmente caros remédios. A Valeant também está às voltas com múltiplas investigações por parte do governo, inclusive da SEC.

Pearson também disse que a Valeant está considerando a venda de ativos não essenciais para pagar parte de sua dívida de US$ 31 bilhões. Ontem, a Valeant afirmou que está comprometida a pagar pelo menos US$ 1,7 bilhão de sua dívida neste ano. (Colaboraram Mike Cherney, Jonathan D. Rockoff e Jacquie McNish.)

 

Fonte: Valor Econômico


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