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ALANAC - Notícias do Setor

Agenda de longo prazo é essencial

28 de Abril de 2016

Por: Martha San Juan França

São reconhecidas as inúmeras vantagens do Brasil em termos de recursos naturais para ocupar posição de destaque numa economia de baixo carbono. Contudo, o país pode deixar passar a oportunidade e ficar atrás de outras nações como Índia e China se não investir numa política de inovação voltada à proteção dos ecossistemas, à maior eficiência no consumo de energia e água, novas tecnologias sustentáveis. "A agenda brasileira sofre muito com a descontinuidade e ainda está focada nas grandes empresas que puxam a cadeia produtiva e em editais de financiamento de algumas agências governamentais", afirma Gerson Pinto, presidente da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei).

Houve um salto a partir de 2013 com o Plano Inova Empresa, considera o presidente da Anpei, mas o montante de recursos se mostrou tímido na comparação com a demanda das empresas. Desenvolvido pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e pelo BNDES, o plano não prevê investimento específico em economia de baixo carbono, mas vários projetos nessa linha foram aprovados nos últimos anos.

O programa Inova Sustentabilidade, por exemplo, teve demanda quatro vezes maior do que o orçamento previsto de R$ 2 bilhões. O BNDES e a Finep receberam projetos para todas as linhas temáticas (produção sustentável, recuperação de biomas, saneamento ambiental, monitoramento ambiental e prevenção de desastres naturais), sendo a área de produção ambiental a que trouxe maior volume de demanda ­ cerca de 50% dos pedidos.

Os projetos se referem a eficiência energética, redução de emissões atmosféricas, efluentes líquidos, carvão vegetal, materiais tóxicos e resíduos industriais.

A área ambiental do banco ainda administra o Fundo Clima, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, destinado a apoiar projetos voltados à mitigação de mudanças climáticas, e o Fundo Amazônia, voltado para a conservação, recuperação e atividades econômicas sustentáveis na floresta. Outros programas também se referem à economia verde, como o BNDES Restauração Ecológica e o BNDES Mata Atlântica, além do Funtec, que engloba projetos na área de escassez de recursos naturais e mudanças climáticas.

Isso sem contar o montante aplicado em energia renovável, como eólica, que teve uma expansão de 85% com os desembolsos que passaram de R$ 3,3 bilhões para R$ 6,1 bilhões em 2015, avaliados em uma rubrica diferente. "No total, as liberações para os segmentos de inovação na economia verde alcançaram R$ 31,3 bilhões em 2015, um aumento de 11% em relação ao ano anterior", afirma Flávia Kichinger, chefe da área de planejamento do banco.

Segundo Rogério Medeiros, superintendente da Área de Planejamento da Finep, a soma de recursos aplicados em parceria somam R$ 6,3 bilhões de 2013 a 2015, muito mais do que nos dez anos anteriores do fundo. "A Finep agora está identificando fontes internacionais voltadas para projetos relacionados à ciência do clima, adaptação às mudanças climáticas e mitigação para trabalhar em parceria, nos moldes do que fizemos na década de 1980 com recursos do Banco Mundial", afirma.

Para o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), José Goldemberg, é importante viabilizar recursos para a economia verde, mas além disso, é preciso ter uma política que sirva de incentivo às empresas para desenvolver programas de inovação. Ele cita como exemplo os motores dos veículos brasileiros, "desenvolvidos para atender aos requisitos de uma legislação nacional, menos restritiva em termos de controle de poluição do que a europeia e americana e, por isso, menos exigente em termos tecnológicos".

Empresas voltadas para o mercado externo, por isso mesmo, são mais interessadas em desenvolver projetos inovadores na área de economia verde. A Fapesp, em parceria com a Peugeot Citroën do Brasil e um pool de universidades paulistas, criou o Centro de Pesquisa em Engenharia Prof. Urbano Ernesto Stumpf em Campinas.

O objetivo é desenvolver novas configurações de motores para biocombustíveis, redução de consumo e de emissão de gases e a viabilidade econômica. "A Europa tem o compromisso de utilizar 20% de combustíveis renováveis nos veículos até 2020, e o motor a etanol pode ocupar alguns nichos de mercado", afirma o coordenador do centro, Waldyr Gallo, da engenharia mecânica da Unicamp. "A Peugeot teve uma visão pró-­ativa de financiar a pesquisa com centros brasileiros que já se destacam no estudo dos biocombustíveis."

Da mesma forma, a farmacêutica GlaxoSmithKline (GSK) inaugurou este mês na Universidade Federal de São Carlos o Centro de Excelência para Pesquisa em Química Sustentável, um investimento de R$ 5,49 milhões da empresa e R$ 5,09 milhões da Fapesp que envolve também outras universidades. O foco das pesquisas, segundo a coordenadora do programa, Arlene Correa, do Departamento de Química da UFSCar, são o uso de matéria-­prima e fontes de energia sustentáveis. "Todas as farmacêuticas estão sendo cobradas para adaptar a sua linha de produção e a GSK se destaca no investimento em pesquisa básica", afirma.

 

Fonte: Valor Econômico


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